janeiro 24, 2014

Carta aos meus filhos (jovens adultos)...

Meus amores, meus tesouros,

Sabem, vocês foram ambos muito desejados por mim e pelo pai, são ambos frutos do amor, da partilha, da construção de uma vida em comum. Desde que vos vimos pela primeira vez, ainda dentro da minha barriga, cada um no seu tempo, o nosso propósito e a nossa missão ficou muito bem definido: fazer com que nunca vos falte o essencial, educar-vos para serem melhores pessoas, fazerem a diferença neste mundo, saberem de cor os valores da amizade, do amor, da solidariedade, da partilha. Mas transmitir-vos também, que devem amar-se a si próprios, antes de qualquer outra pessoa. O amor próprio, não o egoísmo ou egocentrismo, o amor próprio, é meio caminho andado para serem felizes. 

Eu sei, vai chegar a altura em que as minhas palavras não vão passar de balelas chatas, que vocês estão fartos de ouvir, que quem vos entende mesmo é o vosso grupo de amigos, os vossos colegas, as vossas namoradas. Mas ainda que me digam tudo isso em voz alta, tenham sempre presente, procurem bem nas vossas memórias, os nossos momentos felizes, as nossas risadas, os nossos abracinhos de grupo, as refeições à conversa, os passeios de bicicleta, os olhares no momento certo, o conselho desejado, quando ainda o pediam. Tenham sempre presente que um quinto andar é sempre um quinto andar, tenham vocês 3 ou 33; atravessar a estrada sem olhar vai ser sempre um risco, entrar no mar revolto vai ser sempre uma loucura, fazer para-quedismo sem para-quedas... Quando se sentirem postos à prova (e vai acontecer tantas vezes), parem e pensem em tudo aquilo que vos fez ser quem são, o que vos fez chegar onde estão hoje, seja o secundário, um primeiro emprego, a universidade, e lembrem-se como aprenderam que ser alguém no mundo e pertencer ao mundo de alguém, não é sinónimo de ser humilhado, não é fazer a vontade dos outros para ficar bem na fotografia, e definitivamente, nada tem a ver com colocarem-se em situações de perigo para provarem a alguém que são capazes, ou que são tão bons quanto ele(s), a fazer coisa nenhuma. 

Como mãe que sou, no meu íntimo, vocês ficariam para sempre pequeninos, a fazer gracinhas e a serem protegidos no meu/nosso abraço. Mas a vida não é assim e não é para isso que temos filhos. O bom de se ter filhos é também vê-los crescer, apoiá-los nos momentos chave, vê-los pôr em prática tudo o que lhes transmitimos, ficarmos velhinhos e vê-los envelhecer também, felizes. 
E é também por isso que vos escrevo. Sempre que se sentirem postos à prova, lembrem-se que a vossa vida é demasiado valiosa para a arriscarem por motivos fúteis. Coloquem-se do lado de fora, afastem-se e vejam esse episódio como se fosse um teatro, e decidam qual o papel que querem desempenhar. Por favor, não escolham morrer logo no I Acto, porque isso eu não ia aguentar!

Sejam felizes meus amores, meus tesouros, e eu serei feliz também!

Much love, Mom