Cresci no Alentejo. Foi lá que aprendi a falar sem nunca ter tido sotaque, foi lá que dei os primeiros passos e os primeiros tombos também. Foi no Alentejo que entrei para a escola primária e fiz os primeiros amigos, e foi no Alentejo que fiz todo o meu percurso escolar. Foi no Alentejo que aprendi os valores que sigo hoje, foi lá que arranjei o meu primeiro emprego de verão, onde me cruzei com pessoas do País inteiro que iam para o Alentejo passar férias, aproveitar o bom tempo, as praias maravilhosas, o peixe sempre fresco e as paisagens de postal. Cresci no Alentejo, a ouvir na RFM a hora de ponta na esperança que as ondas da rádio me fizessem sentir o frenesim da cidade, à espera que a monotonia da calma alentejana se dissipasse ao ouvir falar sobre os km de fila que se enfrentavam na 25 de Abril, ou nas alternativas sugeridas para sair de Lisboa num dia de chuva. Foi no Alentejo que percebi que a malta vinha dos colégios bem de Lisboa, atravessava o deserto existente entre a ponte sobre o Tejo e a Zambujeira do Mar, para passar os dias mais emocionantes num dos sítios mais paradisíacos do País, e participar num conhecido festival de verão.
Anos mais tarde, fui eu que atravessei o deserto até à capital, com a mala cheia de energia para beber o conhecimento que procurava, e a vontade para enfrentar horas de ponta, filas de trânsito, viagens de metro e todo o frenesim que a cidade tivesse para me oferecer. Aprendi muito, guardei amigos e momentos, amei a cidade e aproveitei bem a oferta cultural a que Lisboa me convidava frequentemente. Mas no fim, da semana ou do mês, era para o Alentejo que voltava, para a calma da pequena cidade, para o cheiro a mar, a vista mar, os prédios baixos e as ruas desimpedidas. Enquanto vivi em Lisboa, ouvi inúmeras anedotas (batidas) sobre os alentejanos, percebi muitas vezes a ignorância quanto às vilas e cidades, ouvi vezes sem conta que a sul do Tejo não havia nada, apenas a estrada para o Algarve - outra região do País que não existe na sua particularidade, talvez porque se crê que é um todo e não a soma de pequenas e maravilhosas partes. Com os anos, o Algarve (e não Allgarve) começou a ficar cheio, demasiado pequeno para tanto brilho e glamour, e talvez este glamour, outrora tão na moda, tenha começado a cansar numa época em que o live simply se tornou uma frase feita na boca de toda a gente.
Hoje, chique, chique é ir de férias para o Alentejo, ter casa no Alentejo, ir ter com uns amigos ao Alentejo. Viver lá não, porque não se passa lá nada, mas ir lá é do melhor que pode haver! Ora eu que cresci no Alentejo, aquele que abrange pequenas e maravilhosas "partes" que vão desde Portalegre a Porto Covo, de Serpa a Marvão, de V. N. de Milfontes a Arraiolos, posso dizer-vos que o Alentejo é maravilhoso pela sua calma e paisagens, pelas praias e comidas, pelas planícies e montes, pelas suas gentes e culturas. O Alentejo é tão chique agora como era há vinte anos atrás, embora nessa altura não houvesse restaurantes gourmet e nem se ouvisse falar em hotéis de charme. O resto estava lá tudo, os outros é que não queriam ver.
1 comentário:
eu sempre adorei o Alentejo e tenho muitas saudades de o visitar.
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