De todos os desafios que a
maternidade nos oferece, lidar com as birras, é sem dúvida dos mais difíceis de
ultrapassar. Pelo menos nos primeiros anos dos nossos pequenos.
Quando eu era mãe de um filho só,
não sabia o que eram birras. Juro. Havia uma resistência ou outra em
determinada situação, um choro aqui outro ali quando era contrariado, mas nada,
nada que pudesse ser tratado como uma birra. Eu até ia com ele ao supermercado
de forma tranquila!
Depois fui mãe do segundo e o
caso mudou de figura. Cedo, o meu filho pequeno, mostrou que não ia ser tão
fácil de lidar como o mano. Começou com as birras para entrar no ovinho, que
hoje o transformam em contorcionista de circo, tais são as acrobacias que faz
quando o tento meter no carro. Depois, as birras à refeição, não porque não
tenha apetite (nunca lhe falta) mas porque insiste que já sabe comer sozinho.
Não há colher de sopa que lhe entre na boca, sem que ele tenha, também, uma
colher na mão. Quando pego nele ao colo, para evitar que vá onde não deve,
começa logo a gritar e a dar-me cabeçadas. Se lhe tiro um objecto da mão, já
sei que tenho que lhe proteger a cabeça, porque é certo que se vai atirar para
trás! And so on...
Há várias teorias para justificar as cenas que as birras
provocam, mas as mais consensuais resumem-se ao "excesso de mimo" e à
"falta de educação". Eu acho que temos que ver as coisas em
perspectiva. Se o meu filho aos nove meses já não se queria sentar no ovo, e se
com ano e meio se atira para trás quando é contrariado, não posso dizer que ele
tinha mimo a mais ou que já mal-educado! Mas posso (e devo) tentar perceber as
birras e controlá-las. É para isso que eles as fazem, e é para isso que nós
pais estamos cá.
De todas as vezes que ele começa
a fazer uma birra, olho-o nos olhos, falo num tom de voz mais ríspido e
explico-lhe que não se faz. Há quem ache desnecessário, falar ou explicar o que
quer que seja a uma criança com menos de dois anos, mas eu acho fundamental. É
assim que eles vão aprendendo o que é uma bola, onde estão os brinquedos, quem
é a mãe e o pai, e é assim que, aos poucos, vão percebendo também o que devem
ou não fazer. Claro que se ele estiver num choro pegado, não vale a pena dizer
nada, e o melhor é tentar pegar nele e acalmá-lo com palavras meigas e um
abraço. Dependendo do motivo da birra, também posso deixá-lo simplesmente a
chorar. Deito-o no chão (em segurança), deixo-o chorar e espernear, e ignoro. É
o seu momento de libertação. Não passa muito tempo até que apareça perto de mim
a pedir colo.
No meio deste processo de
crescimento do filho mais novo, o mais velho também tem aprendido algumas
coisas, como partir para o choro sempre que quer alguma coisa (na hora) e não
lhe damos, chamar-nos alguns nomes menos agradáveis (como "És uma cocó!")
e outras coisinhas mais.
Ora, aos quatro anos o caso muda
de figura. Mas pouco. Há que saber contextualizar a birra, tentar percebê-la, e
consoante a nossa atitude perante a cena, por cá, explicamos-lhe sempre quais
são as consequências. Por vezes, isto dá azo a mais choro, mas no fim, ou no
outro dia até, ele percebeu o porquê de ter tido uma consequência pelo seu
comportamento. Nesta fase, é fundamental sermos coerentes. As consequências
devem ser pensadas de forma a serem cumpridas, para que ele não pense que o
dissemos no momento mas que não é válido, ou que não vai mesmo acontecer. Se
não formos coerentes, ele percebe, e nós perdemos o controlo da situação.
Para mim, lidar com as birras nas
diferentes idades, passa sobretudo por arranjar um equilíbrio entre o deixá-los
demonstrar a sua frustração (que é saudável) e mostrar-lhes os limites (que são
fundamentais). Não vale fazer-lhes todas as vontades só para não os ouvir
chorar, ou negar-lhes tudo só porque sim. Vale a pena educá-los, oferecer-lhes
a hipótese de aprenderem a lidar com a frustração, para que num futuro não
muito distante, se tornem em adultos que nos enchem o peito de orgulho!
* Post também publicado no blog Oleoban
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