Vivo num limbo desde que fui mãe. Há o meu lado mulher, namorada, profissional, amiga, amante, e há todo um lado meu de MÃE. São duas metades, mal divididas. A metade Mãe consome-me (no bom sentido) mas permite-me ter uns braços que esticam e se multiplicam, ter o colo sempre pronto para eles, ajuda-me a perceber a importância da palavra certa em determinado momento, e faz-me acordar com um sorriso todos os dias. Este meu lado também me tornou mulher de lágrima fácil, mulher que pensa nos filhos a toda a hora, que se interroga tantas vezes se está a fazer o melhor para eles e por eles.
Nesta semana, de regressos e recomeços, as perguntas multiplicam-se, as minhas metades entram em confronto, os sorrisos mantêm-se, mas as lágrimas caem. O R. tem resistido muito em ficar na escola. Gostou muito das férias e não percebe o porquê de não se prolongarem para sempre. O Du, faz uma careta, estica os braços, mas até tem ficado bem. Eu mantenho o sorriso, as palavras de confiança, o discurso do bom que é ter amigos e poder ir à escola aprender. Mas para mim tem sido difícil separar-me deles, sofro nos bastidores, quando já ninguém vê, quando eles não percebem que eu sei que bom, bom era estarmos sempre juntos.
Quando pensei em ser mãe nunca me passou pela cabeça ficar mal dividida. Era tudo tão simples naquela altura. Porra, gostava tanto de ser daquelas mães que se dividem na boa, que não pensam na culpa (que não tem sentido) e que aceitam que a separação é sempre o melhor, em prol da independência e do desenvolvimento deles. O meu outro lado também sabe disso. Sabe que vou poder valer mais aos meus filhos, dar-lhes mais se nos separarmos algumas horas e cultivarmos a nossa independência enquanto indivíduos, para depois no reencontro com aquele abraço, termos mais para partilhar entre nós, mas...
Vivo num limbo, e esforço-me para acreditar que o presente vai valer pelo futuro e não me julgar por não estar com eles, agora, a puxarem-me as saias e a chamar Mãiiii!
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