Quando oiço falar em separações, divórcios, guardas parentais, filhos para trás e para a frente, agradeço sempre o bom senso que os meus pais tiveram em se divorciar quando eu ainda era bebé. E por duas razões: uma, é que se tivesse sido antes eu não estaria aqui a escrever para vocês (risos), outra, pouparam-me a uma série de sofrimentos, de memórias infelizes, de imagens que dificilmente nunca se apagam da memória de uma criança.
Cresci a ver de perto amigos e familiares que não tiveram essa sorte. Cresceram com os pais a comemorar bodas disto e daquilo ao som de discussões constantes, gritarias e ameaças, malas feitas em cima da cama sempre à espera de serem colocadas no carro. Cresceram na instabilidade, no incerto... "Será que o meu pai vai estar cá amanhã? A mãe está a fazer as malas, será que vamos outra vez para casa dos avós?". Alguns, são hoje adultos descrentes nas relações (no casamento, então, nem se fala), com uma visão da vida baseada nas aparências, e profundamente afectadas na sua vida emocional, devido a todas as cenas que assistiram e barbaridades que tiveram que ouvir, sempre em nome da união familiar!
Hoje aqui, ao olhar para esta minha família, aquela que construí, parece-me irreal falar em ruptura, ver um cenário de troca de acusações, de esquecimento total do que é mais importante para nós: o bem estar dos nossos filhos. Hoje, ao olhar para o nosso tesouro maior, aquele que foi planeado com amor e por amor, transcende-me qualquer cena baixa que os possa envergonhar na rua, mas sobretudo que os faça crescer infelizes, com bases afectivas irreais ou muito sofridas. Hoje, relembro a situação dos meus pais, aquela que não vivi, apenas a que me contam, e fico feliz por me terem permitido crescer crente no amor, nas segundas oportunidades, no lema "Estarmos juntos, até que nos queiramos separar!". Claro que crescer filha de pais separados não é um universo cor de rosa, mas isso fica para outra altura. Hoje e aqui, o que interessa é não esquecer estas palavras, caso a vida nos troque (e muito) as voltas!
4 comentários:
as crianças deveriam ser a prioridade de todos os pais e mães que passam por separações sejam menos ou mais amigáveis. Luto todos os dias para que as consequencias da separação sejam as menores e separo bem o pai da minha filha daquele que já foi marido. Esforço-me para uma convivencia saudavel e espero que continue...! ao ler o teu texto dá-me esperança que a minha filha seja feliz, bem resolvida e possa ela propria construir uma Familia no verdadeiro sentido da palavra. acho que um dia se orgulhará de mim quando souber que recusei as aparencias e paguei o preço porque tudo foi por amor... amor proprio, amor à minha filha e amor a tudo o que vivi com o pai dela. e apesar das ausencias e falhas, juntas somos uma familia de amor! bjs
Espero que sim Mel! Um beijinho
Uma das minhas cunhadas divorciou-se no ano passado e o comentário que o meu sobrinho fez, na altura com 11 anos, foi esse: porque é que não se separaram quando eu era pequeno? Tinha sido mais fácil...
:( Espero que não tenha perdido a crença total no amor e na felicidade!
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