outubro 22, 2013

Não trabalhar nunca foi opção... (#2)

Não trabalhar nunca foi opção. Quando me ligaram a marcar a entrevista, gelei! "E agora? Agora que tenho o meu projecto na cabeça? Agora que surgiu aquela oportunidade? Agora que o meu rumo era completamente diferente? Agora que o Duarte ainda é tão pequenino? Será que aceitam que trabalhe em part-time??". Após todos os ses, enchi o peito de coragem, coloquei a minha roupa de executiva e sai confiante. Fui à entrevista para vencer, como disse ao marido. E saí de lá com a plena sensação de dever cumprido. E depois chorei. Chorei muito...
Não trabalhar nunca foi opção. E quando me falaram em trabalhar fora d'horas, fazer uma formação de vários dias longe dos meus pimpolhos, ficar longe deles dia e noite pela primeira vez, eu não cedi, respondi confiante que o faria... e cá fora chorei. Não queria imaginar que ficaria longe deles esses dias, que a minha rotina iria passar a ser deixá-los às 08h e voltar a vê-los às 19h, enquanto tratamos do jantar, orientamos banhos, jantamos e os metemos na cama. "São apenas duas horas para tanta coisa! E o brincar? E o mimo? E a conversa de fim do dia?? O salário miserável compensa estas perdas?!"
Não trabalhar nunca foi opção. E depois do choro, do fim do mundo perfeito idealizado na minha cabeça, e com a ajuda de quem está sempre ao meu lado, reergui-me e pensei que ia ser bom, ia ser melhor, ia correr tudo bem. Afinal, todas as mães (e pais) passam pelo mesmo, eu não seria diferente. E depois, até regogizei com a ideia de passar cinco noites inteiramente dormidas num quarto de hotel... eu estava confiante!
Não trabalhar nunca foi opção. Ontem recebi a resposta... negativa. Perguntei porquê, recebi outra resposta que não me satisfez. Ninguém me tira da cabeça, e porque já estive muito tempo do outro lado da barricada, que o meu handicap são os meus dois queridos filhos. Infelizmente o mercado de trabalho não está preparado para mães. O mercado de trabalho quer pagar pouco, uma miséria, por mão de obra qualificada e quer mulheres, mas não quer mães. As mães têm este defeito de terem que acudir aos filhos quando eles ficam doentes, de nem sempre poderem trabalhar (de graça) até às oito da noite, de saberem que há valores que são mais fortes e mais importantes na vida. Mas as mães querem trabalhar, querem ser mais na sociedade, querem adquirir conhecimentos, aplicar conceitos... basta que lhes dêem a oportunidade!

2 comentários:

Mel disse...

Bem verdade Sofia, de facto a sociedade não está preparada para empregar mães, boas mães que como dizes têm de acudir os filhos e desempenhar um papel muito importante na familia e na educação deles! Vibrei com cada palavra tua e no final senti apenas - É porque desta vez não tinha de ser!
bjinhos

CCC disse...

Verdade! E a crise que atravessamos veio agravar essa atitude perante as mães. Acho que o papel da mãe (e do pai) enquanto formadores das proximas gesrações é subestimado =(
E como tu, tambem já estive dos dois lados da barricada.