novembro 19, 2013

8.557; 419 (5%)...

São estes os números. Mais de 8000 crianças - 8 MIL! - estão em risco e separadas dos pais. Apenas 419, cerca de 5%, vivem com famílias de acolhimento.

Como psicóloga, já trabalhei numa CPCJ (Comissão de Protecção Crianças e Jovens) e posso dizer-vos que é um trabalho complicado, difícil. Ver crianças que não vivem a infância, inseridas em famílias e comunidades completamente desestruturadas, crianças que vivem quase sozinhas porque os pais têm que estar quase sempre fora para lhes dar de comer, ou que são verdadeiramente maltratadas e a única solução que lhes resta é serem institucionalizadas. Muitas vezes chegam lá já no inicio da adolescência, e por lá vão ficando,  porque é difícil alguém acolher um jovem problemático, que até acha que a vida que tinha é que era boa. Como podemos culpá-lo? Estava com os seus pais, não estava?

Lembro-me do M.A., loiro e pequenino, não parecia ter mais de cinco anos embora já contasse 8. Tinha um enorme atraso na fala, vários problemas na escola e a higiene era coisa que não o acompanhava. Foi referenciado para a CPCJ, onde se averiguou que este menino vivia com ambos os pais, alcoólicos, numa barraca minúscula, não tinha regras nem rotinas, mal se alimentava e dormia no mesmo espaço com os pais, onde já os vira várias vezes em cenas bastante intimas e explicitas. Como não tinha mais família - o irmão mais velho prostituía-se nas ruas de Setúbal, desde que saiu de casa - foi retirado aos pais e colocado numa instituição onde ficou vários anos, enquanto os pais faziam desintoxicações e tinham recaídas atrás de recaídas...

Amanhã é o Dia Nacional do Pijama. Os nossos filhos, que felizmente têm um lar e conhecem o amor de perto, vão todos contentes para a escola vestidos de pijama, porque vai ser um dia diferente e mais divertido para eles. Mas acima de tudo, pode ser um dia que marcará a diferença na vida de milhares de crianças. 
"O pouco pode fazer muito!" e vocês podem saber mais sobre este projecto AQUI!

1 comentário:

amigos das onze horas disse...

Eu lido com miúdos carenciados e a viver situações familiares muito complicadas. Às vezes quando estou em casa à noite de barriga cheia e no quentinho penso nos meus meninos e imagino como eles estarão naquele momento