Quando fiquei grávida a primeira vez, imaginei sempre que teria um parto (dito) normal, e no limite não iria precisar sequer da epidural, porque a genética é coisa em que acredito e eu sairia à minha mãe com partos rápidos e quase indolores. No inicio do terceiro trimestre, a minha médica começou a preparar-me para hipótese de fazer uma cesariana, uma vez que o Rodrigo se encontrava confortavelmente sentado e não parecia estar com vontade de fazer o pino. Comecei a convencer-me que assim seria, e na verdade não foi preciso muito esforço, o que eu queria é que corresse tudo pelo melhor para ambos. Sabia o que era uma cesariana na medida do que a maioria da mulheres sabem, do que ouvem falar das amigas, afinal ter um filho por cesariana é hoje em dia tão comum como por parto natural.
Às 36 semanas, a bolsa rebenta a meio da noite e nós "corremos" para o hospital (público). Fiz a dilatação completa em meia hora, com pouco mais do que uma dor menstrual. Afinal a genética é mesmo minha amiga, mas a costela alentejana do meu filho fez com que continuasse sentado e a cesariana teve que acontecer. Em vinte minutos ele nasceu. Foi estranho, não tive dores mas parecia que estavam a arrancar qualquer coisa de mim (e estavam) tal eram os abanões que me davam naquela mesa de operações com os holofotes sobre mim e a música de fundo a tocar. Mostraram-mo todo limpinho e pouco tempo depois estávamos juntos no recobro. Estive 24h horas deitada e quando me levantei, tinha algumas dores que eram controladas por analgésicos fornecidos frequentemente pelas enfermeiras, mas no dia seguinte já me mexia melhor, e no outro melhor, e assim por diante. Ao quinto dia, quando regressei a casa, já não precisava de analgésicos e tirando alguns cuidados para me sentar ou levantar, posso dizer que a recuperação não podia ter corrido melhor.
Sai do hospital com a indicação precisa de que não deveria engravidar num intervalo inferior a dois anos e
assim foi.
assim foi.
Passados dois anos voltei a engravidar, mais uma vez com a esperança de que poderia ter um parto normal, uma vez que não havia indicações em contrário. Às 38 semanas comecei a ter contracções, pequenas moinhas que se foram acentuando um pouco. Cheguei ao hospital (público) com quatro centímetros de dilatação e devido ao meu passado recente a médica achou melhor eu já não sair. As dores acentuaram mais e mais, a certa altura eram fortes mas não insuportáveis, e três horas depois recebo a epidural. Ahh, que bom que alívio! - pensei - é desta que vou ter um filho pela via tradicional! Infelizmente a euforia não durou muito, o bebé começou a entrar em sofrimento e a equipa resolveu avançar para cesariana... mais uma vez! Fiquei triste, não vou negar, mas o pensamento era positivo.
Já no bloco a médica disse-me que eu tinha uma ruptura uterina (medo) e ainda brincou que só poderia ter outro filho daí a três anos. Eu sorri, mas tinha frio, não estava preocupada mas também não estava bem. Talvez porque tivesse mais consciência dos procedimentos e com certeza porque tinha já um filho em casa à espera que eu voltasse... Mas finalmente vi o Duarte e o frio passou.
A recuperação foi mais difícil desta vez. Não vou mentir. Mesmo com os analgésicos eu tinha muitas dores. Durante três dias andei curvada, mal dava dois passos sem dizer ai. Ao contrário do que imaginei, não queria que o Rodrigo ficasse no quarto durante muito tempo, com receio que me fizesse mal ou que ressentisse eu não poder brincar e abraçá-lo como deve ser. Para piorar estava constipada, cheia de tosse, e tossir era um martírio. Sentia que os pontos iam abrir todos, mas felizmente era só impressão. No corredor via mães, do mesmo dia que eu, a passear já frescas como se não tivesse acontecido nada com elas. Que inveja, e eu ali deitada!
A minha experiência é passada no hospital público, sem qualquer exigência da minha parte em relação ao tipo de parto, mas com os procedimentos médicos adequados ao meu bem estar e dos meus filhos. Mas o que vejo, através de muitas amigas seguidas em hospitais privados, é que a cesariana é uma escolha das mães e não médica, é uma questão de agenda e disponibilidade dos pais e dos médicos não deixando natureza fazer o seu papel. Uma cesariana pode ser a conjugação de grandes interesses... À semelhança do leite adaptado/suplemento, não sei se repararam, mas são raras as mães que saem do hospital privado sem dar suplemento, ao contrário do público. Estranho, não?
Isto para dizer que cada caso é um caso, mesmo que seja na mesma mulher. Ontem tive muita pena que o futebol tivesse (mais uma vez) atropelado a Grande Reportagem da SIC, porque pelo que vi na apresentação deve ser muito interessante, focando que o aspecto económico pode muitas vezes atropelar (também aqui) as questões de bom senso e saúde da mãe e do bebé.
Deixo para cada um a discussão se o tipo de parto deverá ser uma decisão da mulher ou do médico? Será que a mulher decide baseada apenas no receio da dor?
E a epidural, conhecem?!
Talvez decida porque desconhece as complicações e recomendações associadas a uma intervenção cirúrgica, como é a cesariana... talvez não.
E a epidural, conhecem?!
Talvez decida porque desconhece as complicações e recomendações associadas a uma intervenção cirúrgica, como é a cesariana... talvez não.
Sofia**
2 comentários:
Trabalho num hospital (público). No serviço, curiosamente, de Neonatologia... e já vi tanta coisa!
As cesarianas, ali pelo menos, nunca são uma escolha da mãe, e às vezes até DEVIAM ter sido das médicas (se é que me faço entender).
A moda nas últimas semanas é evitar-se as cesarianas... a par disto, a Unidade recebe bebés directamente do bloco de partos, fruto de partos traumáticos, recorridos a ventosas e forceps. Vemos mães completamente rebentadas. Não concordo que as cesarianas possam ser uma opção do só "porque sim", mas há momentos para tudo.
Em relação ao aleitamento... Bebés nossos que façam leite adaptado, só o fazem em situações especificas: a mãe não tem leite, o bebé não tolera o leite materno (sim, acontece), a mãe por qualquer motivo não pode amamentar... Em todos os momentos é incentivado o aleitamento materno!
Eu tive a sorte de ter dois partos normais, rápidos e sem sequer recorrer à epidural. Mas, apesar dessa ser desde sempre a minha vontade, nunca disse que se fosse preciso diria que não à cesariana. Acho que se deve recorrer a ela desde que seja a opção mais indicada para cada situação. Uma amiga sofreu horrores (no privado), a suplicar por uma cesariana depois de horas em sofrimento, para chegarem à conclusão que afinal ela não ia conseguir ter a menina por parto normal, porque era demasiado estreita de bacia.
Enviar um comentário