abril 16, 2015

Mãe, eu não sei contar até muitos...



No outro dia, do nada, o Rodrigo saiu-se com esta: Mãe, todos os meninos da minha escola sabem contar até muitos e eu não!

(Um nó na minha garganta e em segundos um zapping na minha cabeça: Todos os meninos da escola são mais espertos que o meu? Todos os pais desses meninos da escola trabalham coisas com eles que nós também deveríamos trabalhar?? Será que me está a escapar alguma coisa?! Mas ele também conta... até 15, 20? E escreve o nome... E diz algumas palavras em inglês...)

- Filho, não te preocupes, tu também vais aprender. Basta quereres! (e em seguida falámos sobre qualquer coisa sem importância, mas aquilo ficou-me a martelar!)

O Rodrigo tem quatro anos, quase cinco, e molda plasticina, pinta com lápis e canetas, faz desenhos no quadro de giz, faz puzzles e jogos. Tem um sem número de bonecos miniatura com que inventa mil e uma histórias e aventuras. Gosta de lutas e espadas e pistolas. (pois é!) 
Nós brincamos com ele(s), em casa, na rua, no parque, na praia, quase todos os dias (permiti-mo-nos a ter dias em que não nos apetece) o ano inteiro. Corremos, andamos de bicicleta, exploramos sítios novos, rimos muito, tiramos muitas fotografias para mais tarde recordar em álbum. Tentamos um equilíbrio em relação à televisão, um pouco todos os dias mas sem exagero, porque achamos que nesta idade há sempre coisas mais interessantes para fazer. Levo-o para a cozinha, fazemos bolos, ele enfia o dedo na massa das panquecas, e gosta de mexer a sua papa.

Pelo meio, aqui e ali, ele pergunta: porque é que a lua é tão pequena? porque é que os velhinhos morrem? como se diz sofá em inglês? porque é que as árvores estão sem folhas? quais são as letras do meu nome?...
Pelo meio ele tem receio de tirar as rodinhas da bicicleta, gosta de adormecer com o seu ó-ó, diz que preferia ficar em casa todos os dias apesar de se divertir na escola, emprega bem palavras como extraordinário ou  normalmente, e é uma criança sensível, protectora do irmão e muito feliz. FELIZ. 
E aqui se dissipam todas as minhas dúvidas. Ele é FELIZ! 

Ele só vai fazer cinco anos e já sabe tanto! Se eu podia sentar-me com ele a martelar nos números e no ABC? Podia, mas roubava-lhe tempo ao faz de conta, aos rabiscos no papel, às lutas com o mano, às quedas de bicicleta. Se ele já podia contar até muitos de trás para a frente e da frente para trás? Podia, e pode, e vai contar. Na idade certa, no tempo certo, quando estiver preparado para receber essa informação e assimilá-la em vez de decorá-la para (grande) orgulho meu. 
E nessa altura, não tão longe de hoje quanto isso, espero que ele leve uma bagagem cheia de joelhos esfolados, castelos na areia, mergulhos no mar, memórias com cheiro a bolo, e histórias umas inventadas outras tantas reais. Porque o que eu quero mesmo é que ele(s) viva a sua infância em pleno, que absorva a experiência através da inocência com que nesta idade se descobre o mundo. 
Eu quero mesmo é que ele(s) seja(m) feliz(es)!



(Não falámos mais sobre o assunto. No outro dia perguntei-lhe se ele também queria aprender a contar até muitos como os amigos... Não mãe, quero aprender isso na escola primária. Vou brincar! E foi...)






1 comentário:

Sofia Ferreira disse...

;) Beijinhos Pimenta!!