Maio 2013
Lembro-me que naquele Maio fiquei desorientada. Chorei sozinha e no ombro de quem está sempre lá para mim. Depois das lágrimas, reergui-me e pensei num futuro melhor, afinal aquele não era nem por sombras o meu emprego de sonho. Passei um ano a enviar cv's e a aproveitar da melhor forma o meu filho (único na altura), a mimá-lo, a ensiná-lo e a aprender com ele a ser mãe. Passado um ano, sem resposta do mercado de trabalho e a adorar esta coisa da maternidade, decidi(mos) avançar para uma certeza: o segundo filho. Foi uma gravidez com a observação tranquila do crescimento de dois filhos em duas perspectivas diferentes: um dentro, outro fora.
Durante este tempo continuei a investir na minha formação, procurei novos hobbies, pesquisei outras formas de rendimento, mas sobretudo tentei desfrutar deles o mais possível, porque queria e porque acredito que este é o melhor tempo da infância dos meus filhos, em que nós devemos estar presentes e fazer a diferença na vida deles. E estive sempre tranquila. O tempo foi passando num equilíbrio mãe/mulher/profissional-em-contínua-construção.
Nos últimos tempos já não. Começo a sentir falta de algo mais, de objectivos específicos, de outros desafios. Começo a preocupar-me com a idade, com a difícil aceitação por parte do mercado de trabalho de uma mãe com mais de 35 anos. Sabiam que em todas as entrevistas de emprego que fui, a seguir ao Boa tarde! me perguntam logo se tenho filhos e de que idades? Eu já estive do outro lado e sei que esse é meio caminho andado para o meu currículo ficar na gaveta. Por outro lado, podia retirar toda a minha formação do 12º ano em diante e tentar a sorte numa grande superfície comercial, arriscar-me a trabalhar nos horários em que minha família está livre a receber o salário mínimo, subir no escalão de IRS e ficar ela por ela em termos financeiros, sem realização pessoal mas pelo menos dizendo ao mundo que estou a trabalhar... Ou podia abrir actividade nas finanças e fazer um monte de coisas a recibos verdes, tendo sempre um encargo mensal à segurança social, mesmo que não esteja a receber o suficiente ou a receber zero mesmo. Enfim, há um mundo de possibilidades cá dentro que me (nos) levam cada vez mais a equacionar hipóteses lá fora, onde a idade, o estado civil ou o número de filhos não fazem parte do CV, onde recebes pelo que trabalhas, onde podes ter n empregos numa vida porque não ficas eternamente colado a nenhum deles. Lá, são experiências de vida que que te enriquecem, não te segregam.
Com tudo isto ultimamente os meus filhos têm ficado a perder. Eu ando mais irritada e grito com eles mais do que gostaria. Se estou com eles culpo-me porque devia estar a fazer algo mais, se não estou culpo-me porque queria estar. Daqui a um ano por esta altura estarei a matricular o Rodrigo na primária e o Duarte no jardim de infância. O tempo não pára e eles já estão enormes (e lindos), precisam de mim e eu deles. Por tudo isto tomei uma decisão: vou estar com eles, verdadeiramente com eles, nos próximos meses. O bom tempo está aí, vivemos num sítio lindo em que podemos "imitar" as férias sempre que quisermos, ir ao parque, à praia, pintar, brincar, ficar em casa se nos apetecer. Vou tirar este tempo para respirar sem culpas, para me inspirar sobretudo neles, na sua inocência e alegria de viver. Vou ser feliz com eles e fazê-los felizes comigo.
A Catarina diz que a vida se resolve sozinha, e embora me custe um bocado a acreditar, vou dizer que sim nos próximos meses. Veremos em Setembro o que ela resolveu para mim.
A Catarina diz que a vida se resolve sozinha, e embora me custe um bocado a acreditar, vou dizer que sim nos próximos meses. Veremos em Setembro o que ela resolveu para mim.
3 comentários:
Como concordo, a primeira infância é sem dúvida quando eles precisam mais de nós e lamentavelmente este país não quer saber, onde uma simples prorrogação da licença de maternidade é mal vista aos olhos do empregador e até aos olhos de alguns cidadãos comuns e termos que ouvir alguns comentários menos simpáticos é lamentável , parabéns pela coragem dessa decisão ;)
Bjs
Desfrutar este tempo com eles é um privilegio mas quando não te sentires feliz por estares a ser mãe o tempo inteiro também tens de pensar em ti antes de mãe também somos pessoas, lendo o teu post penso o quantas vezes imagino que tudo seria mais fácil se fosse mãe a tempo inteiro mas no fundo sei que não me sentiria realizada,bjinhos
Se não se resolver sozinha... nos damos uma ajuda.
Uma coisa boa que esta vida tem, pelo menos a minha, é que é junta com a tua... e isso, só por si, já resolve muita coisa...
Lov-U!
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