#39/52 "A portrait of my kids, once a week, every week, in 2015"
Faz hoje um mês que reintegrei oficialmente o mercado de trabalho.
Faz hoje um mês que chorei mais do que sorri, que o meu coração ficou pequenino e apertado ao deixá-los no infantário, que contei os minutos para voltar para casa.
Há um mês atrás e nos dias que se seguiram, chorei todos os dias quando cheguei a casa. Para muitos que me lêem isto pode parecer um absurdo, mas ainda assim é verdade. Ter apenas 2/3 horas para eles, divididas entre banhos e jantares, birras e cansaço, foi uma novidade e um fardo que me colocou as emoções à flor da pele.
Tendo sido uma readaptação (e não uma tragédia), um mês depois estamos todos de relógios acertados para acordar mais cedo, vestir com calma, tomar o pequeno almoço juntos e seguirmos no nosso passeio matinal até aos respectivos "empregos". Posso fazer isto todos os dias, não me posso queixar. Mas tenho uma certeza hoje que não tinha há um mês atrás: não é isto que eu quero!
Ontem quando fui com o R saber informações sobre o judo, percebi que o horário dele é incompatível com o meu, terá que ser sempre o pai a levá-lo (quando pode) e eu muito dificilmente vou poder assistir a alguma aula. Chegámos a casa, já iluminados pelos candeeiros de rua, e os miúdos cheios de fome e sono, mas a pedirem para jogarmos à bola, pintarmos um desenho, contarmos uma história, na tentativa de fazerem caber um dia inteiro em apenas duas horas... não é isto que eu quero.
Eu quero trabalhar, mas quero ter tempo para eles. Eu quero trabalhar e quero fazer aquilo que gosto. E quando digo isto em voz alta parece que estou a dizer alguma blasfémia, algo que só um lunático pode desejar. Eu tenho a certeza que aliar o trabalho à vocação/gosto/talento é meio caminho andado para sermos mais felizes e não darmos pelas horas passar. Eu sei que ter um horário mais flexível, que me permita conjugar a vida familiar e profissional, vai trazer consequências muito positivas no crescimento dos meus filhos, e ao meu. Também tenho a certeza que tal como eu sinto a falta deles, eles sentem a minha falta, e que termos tempo de qualidade juntos passa por estar com eles sem os minutos contados na correria dos dias.
Ontem li um desabafo de uma mãe no facebook que se sentia muito triste e angustiada porque via a filha de 18 meses de manhã e quando chegava a casa a bebé (é uma bebé!) já dormia. Lamentava-se esta mãe mas pedia desculpa, como se esta angústia não fosse legitima e comum a tantas outras mães. Obteve solidariedade como resposta, testemunhos idênticos, mas também outras que a aconselharam, com a melhor das intenções é certo, a aproveitar aquela hora diária que passava com a filha, de manhã antes de a levar ao infantário, e que um dia a filha cresce e vai à vida dela, que a filha ficava bem o dia todo para não se preocupar...
Às vezes custa-me ouvir este comodismo, custa-me que os pais/mães em particular se acomodem às frases feitas do "tem que ser assim...", "já foi pior...", ou "no nosso tempo...". E custa-me, sobretudo, que quem governa não perceba a importância de podermos realmente acompanhar o crescimento dos nossos filhos, e sermos trabalhadores produtivos, e pessoas felizes.
É que é possível tudo isto, mas não se nos acomodarmos. Certamente serão felizes aqui... e é isto que eu quero!
Sofia**
Instagram @sofia_ferr
Ontem li um desabafo de uma mãe no facebook que se sentia muito triste e angustiada porque via a filha de 18 meses de manhã e quando chegava a casa a bebé (é uma bebé!) já dormia. Lamentava-se esta mãe mas pedia desculpa, como se esta angústia não fosse legitima e comum a tantas outras mães. Obteve solidariedade como resposta, testemunhos idênticos, mas também outras que a aconselharam, com a melhor das intenções é certo, a aproveitar aquela hora diária que passava com a filha, de manhã antes de a levar ao infantário, e que um dia a filha cresce e vai à vida dela, que a filha ficava bem o dia todo para não se preocupar...
Às vezes custa-me ouvir este comodismo, custa-me que os pais/mães em particular se acomodem às frases feitas do "tem que ser assim...", "já foi pior...", ou "no nosso tempo...". E custa-me, sobretudo, que quem governa não perceba a importância de podermos realmente acompanhar o crescimento dos nossos filhos, e sermos trabalhadores produtivos, e pessoas felizes.
É que é possível tudo isto, mas não se nos acomodarmos. Certamente serão felizes aqui... e é isto que eu quero!
Sofia**
Instagram @sofia_ferr
3 comentários:
como me revi neste post. eu ainda não voltei ao trabalho, mas é algo que temo muito. por um lado, sinto que preciso dessa parte, de me sentir útil, ter certa independência... mas depois, por outro, tenho os meus filhos, e pensar em estar tão pouco tempo com eles deixa-me doente. =( é o país que temos e cm dizes está tudo conformado com isso.
Penso da mesma forma. Mas tenho sorte, muita sorte de trabalhar na função pública em regime de jornada contínua, ou seja, 6h30 de trabalho, sem qualquer penalização. Saio de casa pelas 8h15 e chego pelas 15h15. Nesse período nem os tenho que colocar na escola. A mais velha de quase 4 anos (faz em janeiro) e o mais novo de 10 meses ficam em casa com o pai. É assim desde que nasceram. Somos uma família de muita, muita sorte. Dou graças muitas vezes.
Não consigo imaginar a minha vida de outra forma...
Boa sorte
É triste muito triste ver que há famílias que estão em convívio apenas 1 a 3 horas por dia...
Tal e qual e não mudava uma vírgula. Com excepção de ainda não ter regressado ao trabalho mas já com receio desse dia. Porque sei com todas as certezas que tenho que não vou gostar nem querer sair pelas 08 e chegar pelas 20h. :(
Enviar um comentário