porque é que o horário escolar é superior ao horário dos funcionários da função pública?
porque é que há cada vez mais crianças diagnosticadas com deficit de atenção ou hiperactividade?
porque é que as crianças trazem tantos trabalhos de casa? para que servem?
porque é que as escolas têm vindo a reduzir o tempo de intervalo (aka brincadeira) e a aumentar o tempo efectivo de aulas?
porque é que os programas são cada vez mais extensos?
porque é que existem cada vez mais crianças e jovens a queixar-se do sistema escolar, das matérias, dos professores...?
porquê...?
na última reunião na escola do Rodrigo, que recordo está a frequentar o 1º ano (1ª classe), a professora referiu que os miúdos andam cansados, que o programa é muito exigente e que está constantemente a mudar. disse ainda que a última turma que teve do 1º ano, há quatro anos atrás, tinha que aprender ao longo do ano lectivo até ao número 20, e que actualmente, o programa exige que aprendam até ao número 100 e que façam algoritmos e pequenos textos da sua autoria!
e eu perguntei porquê? quem é que elabora os programas escolares? quem é que define o que é importante as nossas crianças aprenderem? quem está no comando tem noção prática do que se passa no terreno? no que é que se baseia o conteúdo programático?
o que recebi de volta foi um encolher de ombros. quase que senti, por parte da professora, um certo receio em falar não fosse ela dizer tudo o que devia (e não devia, talvez). e todos os outros 24 pais presentes na sala se mantiveram em silêncio. ninguém perguntou porquê, ninguém se juntou à minha indignação, todos se mantiveram calados, conformados.
o mesmo já acontecia no infantário quando nas reuniões as educadoras se queixavam que não tinham tempo para fazer "coisas giras" com as nossas crianças, e que achavam um absurdo terem que seguir regras e um programa idêntico ao do ensino básico porque o Ministério da Educação assim o exigia. e também aqui ninguém perguntava porquê. (ou melhor, perguntava, eu!) havia um encolher de ombros e conformismo generalizado como se fosse tudo normal! o importante mesmo era discutir a qualidade ou a cor das t-shirts, o valor da prenda da festa de Natal ou as mil exigências para a festa de finalistas...
eu não acho normal! e hei-de perguntar porquê sempre que alguma coisa no que diz respeito à educação/formação dos meus filhos não me pareça adequada!
eu não me importo que eles brinquem à chuva, que subam às árvores, que venham com os joelhos esfolados. eu não quero recreios forrados a borracha, quadros interactivos, tablets individuais, nem aulas de mandarim ou japonês.
eu quero um ensino apelativo e adequado, que fomente a curiosidade deles e que permita o florescer da sua criatividade.
quero que eles tenham tempo para brincar, para jogar, para estar em grupo, dentro ou fora da sala de aula e que tenham tempo para cultivar valores como solidariedade, amizade, cooperação.
quero uma escola com casas de banho em condições, com um pavilhão desportivo onde não chova, com uma ementa alimentar nutritiva que não os faça passar fome ou encherem-se de bolachas logo a seguir ao almoço. (mas também aqui pareço ser a única a preocupar-me...)
eu quero que a escola, o ensino, seja um lugar para onde os meus filhos vão felizes e entusiasmados, mas isso não acontece. e como ainda só estamos no 1º ano sinceramente tenho medo do que aí vem, mas esperança que muito em breve ocorram mudanças.
porque temos que ser muitos a perguntar PORQUÊ?! ou não?!
eu quero um ensino apelativo e adequado, que fomente a curiosidade deles e que permita o florescer da sua criatividade.
quero que eles tenham tempo para brincar, para jogar, para estar em grupo, dentro ou fora da sala de aula e que tenham tempo para cultivar valores como solidariedade, amizade, cooperação.
quero uma escola com casas de banho em condições, com um pavilhão desportivo onde não chova, com uma ementa alimentar nutritiva que não os faça passar fome ou encherem-se de bolachas logo a seguir ao almoço. (mas também aqui pareço ser a única a preocupar-me...)
eu quero que a escola, o ensino, seja um lugar para onde os meus filhos vão felizes e entusiasmados, mas isso não acontece. e como ainda só estamos no 1º ano sinceramente tenho medo do que aí vem, mas esperança que muito em breve ocorram mudanças.
porque temos que ser muitos a perguntar PORQUÊ?! ou não?!
desculpem o looongo texto, mas este é um tema que me interessa, que me preocupa e que julgo interessa a muita gente... ou estou errada.
deixo-vos este link com uma entrevista ao Prof. Eduardo Sá que achei muito interessante.
e, por favor, não se conformem!
Sofia**
3 comentários:
O meu filho também anda no 1 ano. Confesso que admirada com o que ele tem aprendido e digo sempre, no meu tempo não era nada assim!!!!
No fim da pré, fiquei com dúvidas se o devia pôr nas actividades extra curriculares ou não, e porquê? Porque todos os outros pais estavam a inscrever os filhos, alguns porque não tinham com quem deixar as crianças, mas há outras mães, que tal como eu são mães a tempo inteiro/domésticas (como queiram chamar, enfim). Certo dia perguntei a uma delas o porquê, ao que ela me respondeu " porque as outras crianças vão, por isso acho que a minha filha também deve ir"!!!! Fiquei a pensar, a sério?!! Lá porque os outros vão, o meu também tem que ir?!? Lá está, a competição começa cedo!
Acabei por não inscreve-lo, 3 dias da semana sai cedo, pode fazer o que quiser, brincar, ajudar-me na horta, no jardim, brincar/ensinar coisas de irmão mais velho ás irmãs...2 Dias sai ás 17:30hr e já se queixa 😀
Cara Sofia, como é possível que ninguém tenha um comentário para lhe fazer sobre este texto? Como? As suas preocupações são também as minhas e falo na primeira pessoa: sou mãe de duas miúdas que em nada são iguais (parece a musica pimba, juro!) mas que têm em comum não só a mãe e pai como a escola onde vão fazer o ensino básico....e ficamos por ai? Se uma é loura, a outra é morena; se uma gosta de doces, a outra nem os quer ver; se uma é calma e sensível, a outra é um furacão; se uma gosta de pintar, a outra gosta de moldar; se uma gosta de laranjas, a outra devora maçãs...e muito mais poderia acrescentar...a única certeza que tenho é que não são iguais e dificilmente serão iguais na escola e perante a sociedade. Como pode apenas haver um modelo público de ensino se as próprias crianças não são iguais? A educação, no nosso país, deve ser revista e com urgência! Atrevo-me mesmo a confessar que talvez tenha que ser a principal questão... é urgente refletir sobre o que se escreve, analisa e discute, sobre as novas metodologias, sobre os casos de sucesso (que se o são, por alguma razão é!). Não acho de todo, que os pais se devam calar, que não questionem, que não opinem ou deêm a sua opinião. A minha mais velha está no 3º ano e a minha preocupação não é só ela: são os colegas e amigos, é a comunidade escolar em geral mas é, acima de tudo, o futuro pois a irmã irá receber os dividendos desse esforço iniciado agora! Forte abraço, Cat
Olá Sofia. O meu filho entra para o 1.º ano em Setembro e as minhas colegas que têm filhos no 1.º ou 2.º ano já estão a "preparar-me" psicologicamente para as dificuldades. O meu filho vai para uma escola que tem instalações novas (o edifício tem menos de 4 anos). Mas é uma escola que não está assim tão preparada para que as crianças tenham momentos de ócio, pelo menos não ao ar livre. Não tem um espaço coberto, mesmo que fosse aberto, para que elas possam gastar energias! O problema é que, quem desenha os edifícios, está no seu mundo, a obedecer a regras, mas que não vê a parte da criança! O mesmo acontece a quem programa os conteúdos do currículo escolar, não sei se é assim que se diz. Será que não têm filhos? Não escutam os professores? Não escutam as crianças? Está a ser muito complicado para crianças e pais...
Sandra
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